DO ORIENTE PARA O OCIDENTE

Acionando a todos os sensores, aguçando aquela curiosidade histórica     e, pronto, já estamos acessando a internet, revirando livros, investigando     manuscristos e conversando com que tem conhecimento do assunto. De onde vem     o Polo, afinal? Referências de historiadores nos levam ao ano 600 antes     de Cristo, com os cavaleiros da Ásia Central e China. As versões     para o nascimento do jogo, numa forma bastante rudimentar, variam ao sabor     de poemas, lendas e algumas gravuras. Mostram o Tibete e seus caçadores     a cavalo, com bastões, atrás de rato almiscarado. Apontam para     a singular importância da prática na China, onde um taco foi     acrescentado ao brasão da dinastia Tsang. Diz-se que da China passou     para o Japão onde foi desenvolvido um tipo diferente de atividades     entre famílias reais.

Outra versão indica a posse e o desenvolvimento do jogo por parte     dos persas, introduzindo-o no Egito, Grécia e Norte da Índia.     O Polo aparecia como passatempo nobre, jogado por sultões, xás,     imperadores e califas. E, ao mesmo tempo, diferenciava os bravos guerreiros     e os caçadores habilidosos. À partir do século XVII,     talvez numa retomada mais moderada do jogo, os tibetanos e os indianos passaram     a praticar o Pulu, com uma bola feita de raiz que levava o mesmo nome. Daí     a denominação atual de Polo.

Na Índia, todos jogavam, cada aldeia tinha seu campo. Às vezes     era jogado no rua central da vila. Segundo relato de Charles Chenevix Trench,     um oficial de calvalaria, "podia-se ver nos jogos rajás e marajás,     soldados, pastores, militantes, gente do povo, todos galopando furiosa e rapidamente,     divertindo-se imensamente". Neste ponto, a história da evolução     do jogo atingia um patamar bem interessante, pois não era apenas privilégio     de altissima classe, passando a ser motivo de confraternização.     A Índia seria o ponto-chave para a ocidentalização. Dali     o Polo seria irradiado para a Inglaterra e o resto do mundo.

 

INFLUÊNCIA INGLESA

O Polo como conhecemos hoje, com suas regras e deteminações,     se deve aos ingleses, que à época da colonização     da Índia esboçaram as primeiras regulamentações     do jogo. A história conta que:

1854 - Os ingleses tinham inciado plantações     de chá no vale Cachar e o tenente do exército inglês em     Bengali, juntamente com o capitão, superintendente do distrito, empolgados     pelo Pulu ao jogarem com os manipuris, uniram-se a mais sete dos plantadores     de chá e fundaram o primeiro club de Polo fundado pelos os europeus,     o Silchar. Posteriomente, 1861, 1863, foram fundados mais três clubes     e rapidamente o Polo se expandiu, levado pelos ingleses a toda a parte: Deli,     Bengali, Madras. Mais tarde, através de umas notícia publicada     no The Field, da Iglaterra, um oficial britânico tomou conhecimento     daquele jogo na Índia, e com alguns companheiros improvisou um time.     Apelidaram o jogo de hóquei a cavalo e começaram a aperfeiçoá-lo.     Não demorou para se tornar o predileto da cavalaria.

1873 - Jogou-se a pimeira partida de Polo na Inglaterra,     em Hurlingham, um clube destinado a ser um marco, pois no ano seguinte já     contava com 1.500 sócios tornando-se o primeiro clube do mundo a ter     os limites de campo definidos e demarcados.

1876 - Ingleses jogavam contra indianos e as regras eram     desenvolvidas. Em Deli foram esboçadas as primeiras regulamentações     do Polo, como é jogado hoje. E em Hurlingham foram estabelecidas as     regras, que se tornaram o regulamento mundial. Nessa mesma época, o     Polo caiu no gosto dos irlandeses e californianos. Um forte representante     da imprensa americana foi a Inglaterra e assistiu a um jogo em Hurlingham.     Voltou aos Estados Unidos levando um conjunto de tacos e bolas, comprou cavalos     no Texas e fez uma demonstração inicial em uma academia hípica     na Quinta Avenida, em nova York. Três anos depois, os clubes proliferavam.

1877 - Os ingleses introduziram o Polo na Argentina, país     que lideraria o jogo no mundo inteiro. A primeira partida na Argentina foi     em 1877 e o Polo conquistou os mais adeptos do que em outro qualquer lugar.     Três anos depois fundou-se o Lomas, seguido pelo clube Flores, em 1883.

1889 - Surgiu o Hurlingham argentino e em 1892 fundou-se     a Associação de polo do Rio da Prata. Não demorou para     equipes argentinas estarem jogando na Inglaterra e vice-versa. Os argentinos     ganhavam todos os jogos auxiliados por cavalos especialmentes desenvolvidos.     O excelente desempenho argentino era explicado, também, devido a topografia,     qualidade do solo e ao clima que permite jogar o ano inteiro.

1890 - Enquanto isso, nos Estado Unidos, já havia     a U.S. Polo Association. Um ano depois contava-se com mais de 100 torneios     em 20 clubes.

No final do século, a British Country Polo Association registrava     mais de 750 jogadores e 63 clubes: 19 na Irlanda, 1 na Escócia e 43     na Inglaterra. A responsável pela difusão do Polo em inumeras     regiões adversas foi a marinha inglesa, que levou o jogo para a Nigéria,     Cuba, Hong-Kong, Ilhas Maurícius, Cabo Verde, Nova Zelândia e     África do Sul entre outras.

 NO BRASIL

Os ingleses, em suas colonizações pelo mundo afora, procuravam     manter monopólios ou ao menos, deter controle sobre acordos e condições     de utilização de terras e transportes. Mas, políticas     históricas à parte, o fato é que engenheiros ingleses     foram enviados ao Brasil, na década de 20, para a construção     de ferrovias. Haviam grupos de ingleses no Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro,     no Paraná em São Paulo, capital e interior. Por ocasião     da construção da São Paulo Railway, depois chamada de     estrada de ferro Santos-Jundiaí, os ingleses trouxeram o Polo para     a capital paulistana. Eles jogavam em campos meio improvisados, perto de Pirituba,     até que formaram um campo no bairro de Água Branca.

Enquanto isso, em Colina, SP, Famílias pioneiras enraizadas na tradição     da agricultura e da criação de cavalos como os Junqueiras, já     haviam feito contato com o jogo e praticavam o Polo de uma maneira inicial,     ou seja, não lapidado. Colina foi a pioneira ao inaugurar em 1926,     o primeiro Clube de Polo do Estado de São Paulo. Nascia também     em São Paulo, a Hipica Paulista, de início na Aclimação     passando para Pinheiros e indo para o Brooklin.

Na revolução de 32, Joaquim Carlos Egydio de Souza Aranha,     o Calu, que adorava cavalos, mantendo animais de cancha reta, travou conhecimentos     com vários da família Junqueira. O encontro foi tão providencial     que o entusiasmo pelo Polo não parou mais desde então. Ao voltar     para São Paulo, Calu, cuja a familia possuía uma chácara     no bairro da Casa Verde, fez um Campo de Polo. Nessa altura, São Paulo     já tinha a Hípica, o campo dos ingleses na Água Branca,     o campo da Casa Verde, o dos militantes da Força Pública, no     bairro de Santana zona norte, e o Clube Hípico de Santo Amaro.

No interior iam surgindo vários núcleos de Polo: Descavaldo,     com Sylvio Coutinho; Tatuí, com os Meirelles; em Pirassununga, Analândia,     Franca, Avaré, Orlândia, e tantos outros. Em 1937, quando a Casa     Verde se formou como um time, o impulso estava dado. Começou a existir     a saudável rivalidade entre clubes e equipes e os jogos se intesificaram.     O Casa Verde representava o Hípica Paulista e o reduto dos Kalil era     o Clube Hípico de Santo Amaro. Os sócios dos clubes, que nem     eram polistas, vinham torcer, cada um por seus times e se organizavam em verdadeiras     festas. Final dos anos 30, começo dos anos 40, já se jogava     o chamado Campeonato Estadual de Polo, hoje Aberto do Estado de São     Paulo. Haviam torcidas organizadas para as equipes, muita assistência     e muita rivalidade transpirando entre os times. Em jogos de maior disputa     como capital e interior, a festa dobrava.

Quem descreve à maneira apaixonante todo esse relato de empolgação     pelo esporte, de uma época brilhante em São Paulo, é     Joaquim Egydio de Souza Aranha, o Sr. Didi de Souza Aranha. Ele lembra episódios     fantásticos, das últimas partidas de seu pai na Hípica     e das fortes denominações dele para com os filhos. Os filhos     do Sr. Calu, quatro irmãos: Didi, Antonio Carlos, Mauro e Roberto,     naquela ânsia de moleques: "Nós queriamos ver Polo, jogar,     montar à cavalo, taquear, tudo. Assistíamos os jogos e íamos     para a chácara, taquear. Isso porque meu pai adotou uma norma para     os filhos: ´Só pode jogar Polo depois de entrar na faculdade´.     Mergulhei nos livros e em 1961 começei com o Polo", conta Didi.

Depois começaram os irmãos e na década de 70 jogavam     juntos defendendo o Casa Verde. Só agora, depois de mais de 30 anos,     é que se apresentam novamente quatro irmãos jogando juntos:     os filhos do Cabeto, pela Maragata . "Sou fâ deles e espero que     eles se engrenem como nós, porque a sintonia era perfeita; um sabia     exatamente o que o outro ia fazer".

E Didi relembra que o Polo era levado a sério: "Em vez de ir     para a boate, gastávamos com cavalos. Véspera de jogo não     saíamos de jeito nenhum, era concentração mesmo. Isso     porque não existia a hipótese de ir para o campo e perder",     Lembra." Na década de 70, com o auge do Polo, nós tínhamos     o sonho de um campo próprio. O da Casa Verde era prejudicado pelas     enchentes do rio Tietê e teve de ser desativado. Procurei muito um local     particular, e sempre imaginando algo perto da Hípica Paulista.

Como em 1973 houve uma epidemia de gripe, atrapalhando e prejudicando o manejo     dos animais na Hìpica, o que nos impedia de jogar lá, minhas     buscas se intesificaram, começando a atingir outras regiões     um pouco mais afastadas", conta Didi de Souza Aranha.

 ENQUANTO ISSO...

O Polo no Brasil estava crescendo. São Paulo já tinha jogadores     fortes, equipes formadas e poucos campos para se jogar. Os Campos das Hípicas     se preservavam para torneios importantes e equipes com jogos mais duros. Para     quem estava ou queria ingressar no polo, as chances se restrigiam bastante.     Mas justamente nessa época, dois polista, P.G. Meirelles e Decito Novaes,     despertaram o interesse de um amigo para o Polo. Era um homem de impetos,     de idéias, que gostava do mar, de barcos, e que não havia ainda,     em seus 45 anos de vida, se interessado por cavalos ou esportes eqüestres.     Foi então que Giorgio Moroni, contaminado pelo fascínio do Polo,     entrou em cena, não se deixando abalar pelas barreiras e já     inventando novas alternativas. A ídéia era jogar Polo e o objetivo     era achar um local.

O sogro de Decito Novaes tinha uma fazenda em Indaiatuba, perto de Campinas,     SP. Ele fez ali um pequeno campo e de vez em quando os amigos iam jogar. José     Luís Herreros, polista, começou a namorar Ana Maria, que morava     naquela mesma região.

Bibliografia

Markmidia Polo Brasil, por Ignácio de Loyola Brandão, editora     de Nick Lunardelli; informações históricas por Joaquim     Egydio de Souza Aranha, Tonino Moroni e Carlos E.N. Baptistella